Artigo
A Igreja Cabeluda, o poema
Por Paulo Rosa
Caps Porto, Hospital Espírita, Ambulatório Saúde Mental, Telemedicina PM Pelotas
Mariana Ianelli nasceu em São Paulo, onde vive. É autora de catorze livros de poesia, entre eles a antologia Manuscrito do fogo (2019), que marca 20 anos de poesia, Terra natal (2021 - finalista do I Prêmio Candango de Literatura 2022 e América - um poema de amor (2021 - semifinalista do Prêmio Oceanos 2022). Além disso, Ianelli tem quatro livros de crônicas e três livros para crianças, que são destaque. Entre outros, recebeu o Prêmio Fundação Bunge de Literatura (Juventude) 2008, menção honrosa no Casa de las Américas 2011, diversas vezes finalista do Jabuti em poesia e foi o Prêmio Minuano de Literatura 2021, categoria crônica.
Pois a poeta avessada esteve em Pelotas há poucos anos. Entre as visitas à cidade, encantou-se com a Catedral Anglicana do Redentor, pelos pelotenses carinhosamente chamada Igreja Cabeluda. Em seu penúltimo livro, Dança no alto da chama, Cousa, 2023, ela toca no assunto. Antes de acercar-se à igreja ela excursiona. Fala com amigos. Carta ao Sr. Toshiaki, pág.14, "Um ano até a coragem de contar / Ao Sr. Thoshiaki / Sobre a morte do bonsai. / O temor do que diria o amigo de tão pouca / E vasta palavra. / Mas o Sr. Toshiaki apenas murmura algo / Sobre o tempo / Entre dois suspiros sem mágoa / Depois encanta o silêncio sugando-lhe / O peso excedente / Com o pincel vivo de uma cauda de gato".
Em Jovem Mondrian, pág. 18, ela mostra: "Ele as levava para casa / E parecia amor / Aquele abuso de olhos / Centenas de horas / Lentas de crisântemos / Despetalando-se / Em queda esplêndida / Centenas de formas / Nesse cultivo / E nunca i9nteiramente / O gozo de reter / A nudez da nudez. / Parecia amor".
Vai a poeta em seu voo amistoso-amoroso, arriscando palavras e imagens, sublinhando o efêmero, como em Dama-da-noite: "Uma só noite / E para esta noite / Quantas não concorreram / No exuberar dessa oferta / Em cálice de borda estrelada / Esculpindo / Lanceolando / Raiando / Em cúpula de alvuras / A noite múltipla / E suas luas consagradas. Quantas".
Adentra, então, em Pelotas: "Igreja cabeluda ou Catedral Anglicana do Redentor, Pelotas (RS) - itálicos da autora - pág. 25: "Suntuosa / Tomada de hera / Toda atada à planta / Que se lhe agarra / Em galha ramificada / Apenas nua no inverno / Antes se encarna / Fogosa / Desde o vitral central / Do corpo por dentro / Se vê a ondulação / Da sua veste viva / No vento". A imagem evocada é poderosa em significados. Uma igreja tornada viva pela natureza, que "a agarra", que a toma em braços, que a leva em vida, que a torna suntuosa por estar irmanada com a Natureza, por ser a Natureza. Como se tivéssemos um templo, esse lugar de recolhimento, de contemplação interior que se oferece dentro da Natureza.
Passado um bom tempo revisitei a Igreja. O poema de Mariana Ianelli tornou a Igreja Cabeluda mais cheia de sentidos, "no alto da chama", pude constatar.
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